Apesar de ter nascido na ilha Terceira, tenho uma costela picoense e outra faialense. Por este motivo, identifico-me com as tradições destas duas ilhas do triângulo, porque desde pequena via a minha avó e bisavó fazerem os bolos de véspera, o pão de trigo e de milho, o bolo de milho e muitos biscoitos típicos. Contudo, era feito tudo a olho e com o falecimento de ambas as receitas foram-se perdendo. Têm-me valido a família a morar nestas ilhas, amigas e antigas alunas, para quem estas tradições fazem parte da família desde sempre e que, tal como eu, sentem ser muito importante esta partilha, para que as próximas gerações possam guardar este registo. É esta a intenção principal desta publicação. Escolhi propositadamente o dia de hoje, 1º Domingo de Bodo, pois as rosquilhas e as vésperas são receitas que marcam presença obrigatória nas celebrações do Espírito Santo, servindo primeiramente como adorno nas procissões, dentro dos açafates feitos em vimes. Um dos elementos fortes da celebração é a distribuição de rosquilhas pela população, como símbolo de solidariedade e de amizade. Esta é uma das tradições que já perdura há muitos anos e que faz parte das nossas tradições e costumes açorianos.
As festividades do Espírito Santo realizam-se 50 dias depois do domingo de Páscoa, no calendário litúrgico católico, e culminam no domingo de Pentecostes, dia em que desceu o Espírito Santo sobre os apóstolos e discípulos de Cristo, então reunidos durante a festividade judaica da Colheita ou Festividade das Semanas.
A introdução do culto do Espírito Santo em Portugal com base nas ideias de Joaquim de Fiore (c. 1131 – 1202), abade cisterciense, que defendeu o milenarismo e o advento da idade do Espírito Santo, ainda divide a historiografia.
Contudo, vários autores avançam que a explicação para a introdução do culto em Portugal e, sobretudo na região de Tomar e Castelo Branco, se deve à ação da Ordem do Templo, instalada no local desde o século XII e depois à sua sucessora, a Ordem de Cristo. A partir do continente, o culto do Espírito Santo irradiou para os Açores, mantendo-se ainda hoje bem vivo e com sentido de agregação comunitária muito forte. Também aí, o surgimento e a implantação do culto deve-se à Ordem de Cristo, a quem foram doadas as ilhas dos Açores por D. Afonso V e a quem, no ano seguinte, a 13 de março, o Papa Calisto III, concede a jurisdição espiritual de todas as ilhas.
Esta devoção é, assim, originária do continente português. Há também quem afirme que esta tradição foi introduzida no séc. XIII pela Rainha Isabel e o Rei D. Dinis. Numa cerimónia especial o Rei e a Rainha coroavam os mais pobres e faziam acompanhar a cerimónia com uma festa. Os fidalgos pediram autorização para fazerem cerimónia idêntica nas suas propriedades a partir de uma réplica da coroa do Rei. Aqui nos Açores ainda se mantém muito acesa a Coroação e é com muita honra que o povo colabora nestes festejos.
São montados altares em louvor do Divino, nos Impérios, e preparado um quarto na casa do mordomo, onde fica em exposição a coroa, e onde são rezados terços com família e amigos. O responsável cada ano, ou mordomo, é eleito e tem a seu cargo distribuir aos pobres e aos que se inscrevem e colaboram, bolos de massa doce, de massa sovada, bolos de rosquilha ou bolos de véspera, carne e vinho de cheiro. Estas esmolas são também em muitas freguesias distribuídas a todos aqueles que por lá passarem.
São também servidas nas festas do Império e do Espírito Santo as tradicionais sopas, feitas com carne fresca benzida pelo padre. Em algumas ilhas serve-se também carne assada e alcatra. É obrigatório distribuir 50 esmolas de carne, pão e vinho pelos pobres. O doce tradicional que acompanha a refeição é o arroz doce.
Espero que tenham um domingo abençoado!
Através dos links abaixo, poderão ter acesso às receitas típicas desta quadra:
1 1/3 colher de sopa de fermento granulado/levedura
1 1/3 colher de sopa de açúcar para a levedura
dos 1,2 kg tirar 2 1/6 colher de sopa de farinha para a levedura
50 ml água morna
Numa tacinha, faça a levedura com água morna, 1 1/3 colher de sopa de fermento granulado/levedura, 1 1/3 colher de sopa de açúcar para a levedura e 2 1/6 colher de sopa de farinha. Misture com uma colher e tape. Deixe que ative e comece a crescer e a ganhar bolhas.
Entretanto, bata os ovos com a raspa de limão, a aguardente e o açúcar. Junte o fermento, metade da manteiga, o leite, a farinha peneirada e o resto da manteiga misturado com a banha.
Se vir que a massa precisa de mais líquido, porque existem ovos com tamanhos menores e farinhas com maior absorção de líquidos, acrescente um pouco de água ou de leite. Se vir que a massa precisa enxugar, coloque um pouco mais de farinha. Contudo, esta massa é por natureza mole e tem tendência de se agarrar às mãos quando a retiramos do alguidar onde levedou, por isso, convém enfarinhar as mãos.
Deixa-se levedar em lugar abrigado de correntes de ar e abafado com uma manta até dobrar o volume. Depois, reparte-se a massa em pedaços iguais e formam-se bolas, que se deixam levedar novamente, cerca de meia hora, em cima de uma bancada ligeiramente enfarinhada, tapadas com um lençol para a massa não estar em contacto com o ar e secar.
Depois, com o indicador abre-se o buraco e pega-se na massa para alargar o buraco. Coloca-se cada bolo de rosquilha em cima de um disco de papel vegetal e deixa-se levedar mais um pouco.
Antes de ir para o forno corta-se. Para tal, recorra a uma tesoura e com os bicos da tesoura virados para baixo, vá cortando a massa até meio da sua profundidade a toda a volta do centro da rosquilha. Com as mãos alargue esses cortes, do centro do corte para fora.
Abaixo deixo um vídeo, retirado da INTERNET, e gravado na ilha do Pico, onde poderão ver todos os pormenores da confeção das rosquilhas, desde o amassar até ao corte.