Curiosamente, fazer rebuçados foi sempre tradição da minha avó materna. A verdade é que não havia fartura de doces, como hoje existe em qualquer superfície comercial. Passava-se a semana sem o hábito de comer um doce. Na minha família, por norma, a sobremesa era fruta e, apenas ao fim de semana, poderia haver um doce, confecionado em casa, que rematava o almoço de domingo. As doçuras apareciam por alturas das festividades, quer fossem estas aniversários, quadras natalícias e pascais, ou outras festas pontuais. Não havia, de facto, abundância de doces lá por casa. Hoje deveria ser assim. Contudo, as tentações e a oferta é maior, logo, também terá de ser maior o controle da ingestão dos doces.
Neste âmbito, cá e lá, quando a minha avó se lembrava, costumávamos fazer rebuçados caseiros, especialmente de inverno, sendo estes maioritamente aromatizados com casca ou raspa de citrino. Como acho que as tradições não devem cair em esquecimento e como este ato de fazer rebuçados em casa não é muito comum nos agregados familiares que conheço, partilho convosco esta técnica, explicada ao pormenor, na esperança de que perdure e seja replicada em família.
Ingredientes
- 250 g de açúcar
- 1 dedo acima do açúcar de água (100 ml)
- 2 colheres de sopa de vinagre branco
- casca de laranja sem a parte branca
- manteiga ou óleo para untar o prato
- Coloca-se o açúcar num tacho, nivelando-o. Vai-se acrescentando água até um dedo acima do açúcar. Adiciona-se, a casca de laranja, o vinagre e mexe-se com uma colher de pau.
- Leva-se a lume médio até estar a ferver de uma forma lenta e a fazer a chamada “bolha morta”, que rebenta lentamente. Não se assustem com o cheiro algo intenso a vinagre. Não passará para o rebuçado.
- Enche-se com água uma taça pequena. Retira-se um pouco do preparado e coloca-se na taça. Aperta-se com o polegar e o indicador para certificar que o preparado se está a unir, levanta-se ao ar e deixa-se cair novamente na água. Se se ouvir um tinido forte está pronto a apagar o lume. Outra forma é na própria tampa da panela colocar um pouco do preparado e verificar se ao puxar já faz fios de seda.
- Deixa-se ferver e verifica-se novamente a consistência acima descrita. Unta-se um prato raso com manteiga ou óleo (certifiquem-se que o prato irá aguentar o calor). Depois de estar nos pratos, o rebuçado deve arrefecer até ficar mais consistente. Unta-se uma faca em óleo e vai-se tentando mexer o rebuçado para arrefecer, sempre dos bordos para o centro, tentando aglomerar o preparado no meio do prato.
- Unta-se as mãos com óleo e tenta-se retirar o rebuçado do prato e esticá-lo com as mãos. Convém fazer este passo com outra pessoa, também com as mãos untadas, para se irem revezando no esticar, pois o rebuçado ainda está quente e queima ligeiramente.
- O rebuçado deve ser puxado com alguma insistência até ficar com a cor e a espessura desejadas. Poderão ser lisos ou torcidos.
- O rebuçado deve ser cortado de imediato antes que arrefeça totalmente. Utiliza-se a tesoura de cozinha.
- Os rebuçados são embrulhados em papel vegetal ou em papel celofane cortado a gosto.