Um dois em um e o conto por trás da receita

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Como é natural na maioria das casas, a quadra natalícia caracteriza-se por alguns excessos. Agora que janeiro já chegou, todos nós voltamos às rotinas alimentares nas quais a sopa está sempre presente. Esta sugestão de hoje não é considerada uma refeição light, uma vez que contém enchidos e algumas carnes gordas. No entanto, foi confecionada com o propósito de servir de dois em um, não havendo, assim, necessidade de segundo prato.

A Sopa da Pedra é uma sopa tradicional da cozinha portuguesa, originária de Almeirim, em Santarém, no centro de Portugal. É uma sopa consistente e rica, feita à base de carne, enchidos, feijão, couve, batatas e cenoura.  É uma sopa que alimenta e reconforta. Tradicionalmente, coloca-se a pedra, bem lavada, no fundo da terrina e, depois de comida  a sopa, guarda-se a pedra para a próxima vez que for preparada.

A designação desta sopa encontra-se em muitas culturas ocidentais e tem como base um conto tradicional que nos diz ter sido um frade lambareiro e espertalhão o primeiro homem a confecioná-la.

Sopa da Pedra

Ingredientes

(para 6 a 8 pessoas)
  • ½ kg de feijão-encarnado (feijoca)
  • 1 cebola
  • 2 cenouras
  • 1 couve-lombarda
  • 1 farinheira
  • 1 folha de louro
  • 1 ramo de coentros
  • 2 dentes de alho
  • 250 g de carne de vaca
  • 400 g de batatas
  • 60 g de chouriço
  • 60 g de morcela
  • 800 g de carne de porco (orelha, pés e toucinho)
  • sal e pimenta a gosto

Preparação

De véspera raspe e limpe bem a orelha e os pés de porco e salgue-os. Ponha o feijão de molho.

No dia da confeção, leve o feijão a cozer, juntamente com o louro. Tempere com sal e pimenta. Junte mais água, se for necessário.

À parte coza as carnes e os enchidos (à exceção da farinheira, que deve cozer em separado).

À medida que forem cozendo, vá retirando as carnes sucessivamente, visto que a carne de porco coze mais depressa que a de vaca, o mesmo acontecendo com a morcela em relação ao chouriço. Corte as carnes e os enchidos em pedaços.

Logo que se retirarem todas as carnes, junte a couve, as cenouras, a cebola, todas elas cortadas em pedaços, os alhos picados, e algum tempo depois as batatas também em pedaços.

Depois de cozido, retire 2 conchas de feijão e reduza-o a puré.

Quando os legumes estiverem cozidos, junte-lhes os feijões inteiros e os passados. Deixe ferver todos os ingredientes, para apurar, e retifique o sal. Acrescente também os coentros picados e a pimenta.

Depois de frios, corte os enchidos em rodelas finas.

Tire a panela do lume e introduza as carnes previamente cortadas.

No fundo da terrina onde vai servir a sopa, coloque uma pedra, tipo seixo, bem lavada. Decore com coentros picados e sirva quente.

fonte

Diapositivo1


frade sopa da pedra 130x130 Sopa da Pedra (Almeirim)O conto por trás da receita…

Um frade andava no peditório. Chegou à porta de um lavrador, mas não lhe quiseram aí dar nada. O frade estava a cair de fome e disse:

— Vou ver se faço um caldinho de pedra.

E pegou numa pedra do chão, sacudiu-lhe a terra e pôs-se a olhar para ela, como para ver se era boa para um caldo. A gente da casa pôs-se a rir do frade e daquela lembrança. Diz o frade:

— Então nunca comeram caldo de pedra? Só lhes digo que é uma coisa muito boa.

Responderam-lhe:

— Sempre queremos ver isso.

Foi o que o frade quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra, pediu:

— Se me emprestassem aí um pucarinho…

Deram-lhe uma panela de barro. Ele encheu-a de água e deitou-lhe a pedra dentro.

— Agora, se me deixassem estar a panelinha aí, ao pé das brasas…

Deixaram. Assim que a panela começou a chiar, disse ele:

— Com um bocadinho de unto é que o caldo ficava a primor!

Foram-lhe buscar um pedaço de unto. Ferveu, ferveu, e a gente da casa pasmada para o que via.

O frade, provando o caldo:

— Está um nadinha insosso. Bem precisa duma pedrinha de sal.

Também lhe deram o sal. Temperou, provou, e disse:

Quando os olhos já estavam aferventados, arriscou:

— Ai! Um naquinho de chouriça é que lhe dava uma graça!…

Trouxeram-lhe um pedaço de chouriço. Ele pô-lo na panela e, enquanto se cozia, tirou do alforge pão e arranjou-se para comer com vagar. O caldo cheirava que era um regalo. Comeu e lambeu o beiço.

Depois de despejada a panela, ficou a pedra no fundo. A gente da casa, que estava com os olhos nele, perguntou-lhe:

— Ó senhor frade, então a pedra?

— A pedra… lavo-a e levo-a comigo para outra vez.

Conto Tradicional português recolhido por Teófilo Braga

Sopa da Pedra

3 Replies to “Um dois em um e o conto por trás da receita”

  1. Apesar de tentar reduzir o consumo de carne, confesso que adoro os nossos enchidos e esta sopa da pedra!
    Não precisamos mesmo de mais nada, é de bom sustento.
    Fica rica e é tão nossa, sempre adorei a história que está por trás da receita.
    Patrícia, um grande beijinho e que tenhas um feliz 2015.

    Gostar

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