É curioso como o termo leivas, tão bem conhecido do açoriano, recebe mais aconchego na variante brasileira do português. De facto, a definição de leiva aproxima-se mais de “terra gramada que se transplanta para formação de relvados” do que simplesmente a terra lavrada como dita o dicionário priberam. E é do processo de busca das leivas para a construção de um presépio natural que versa este post, como se se tratasse de uma demanda pela preservação da tradição familiar de se ir “ao mato” buscar leivas.
Na nossa infância e adolescência, íamos sempre os três com o nosso pai buscar as leivas por altura do 8 de dezembro, quando se semeava também o trigo nas pequenas taças que embelezariam o presépio. O porta-bagagem do carro levava um alguidar de plástico, chamado por nós açorianos de “pana”, um sacho e uma colher de pedreiro e rumávamos até às Veredas, uma estrada com matas de criptomérias nas laterais que acordaram num chão coberto por mantas de leivas. E estávamos quase no coração do mato. Trepávamos o baixo muro que nos separava da mata e aterrávamos naquele chão-nuvem, de tão fofo que era. O meu pai disferia uma golpe de sacho e, com a pá de pedreiro, desprendia com cuidado a manta de erva que viria a ser cenário do nosso presépio. Esta cobriria a gruta do nascimento do menino e ladearia a passagem dos reis magos.
E lembro-me de este ser um passeio mágico. Gosto de recordar estas memórias.
Este ano, e pela primeira vez, fui com o meu marido e com os filhotes às leivas. Eles não sabiam para o que iam. Começaram por estranhar o aparato das ferramentas na bagageira e o facto de eu lhes ter pedido que vestissem roupas mais velhas e quentinhas. Iríamos para o mato. Para eles essa viagem acarretava mistério e despoletava muitas perguntas as quais tentei responder sempre com o propósito de não revelar muito.
Chegámos. Estava frio. Começámos por transportar a parafernália mata a dentro. Decidi que pela primeira vez esta aventura tinha de ser fotografada. Confesso que me senti muitas vezes dividida: queria participar no levante das leivas, mas desejava fotografar todos os passos daqueles momentos. A natureza distraía-me constantemente do propósito que me levou até ali. Ao mesmo tempo que recolhia amostras suas, eu era absorvida por todos os seus pormenores, como se de uma troca se tratasse. Ela dava-se mas exigia que eu a analisasse. Coisa estranha. Sabia também que eu a eternizaria no presépio.
A Natureza estava feliz por nos ter ali com ela e, de súbito, vimos essa felicidade espelhada num tronco. E fica a dúvida se estaria ali presente uma mão humana brincalhona.
Os miúdos adoraram este smile halloweenesco da natureza.
Chegámos um pouco enregelados a casa, mas depressa começamos a desenhar o nosso presépio com as leivas. Preparámos a base, arquitetámos o que seria a gruta do nascimento do menino e os caminhos, que viriam a ser preenchidos com farelo, e estabelecemos recantos com vegetação pequenina.
O menino voltou a nascer este ano aconchegado pelas leivas.
O Anjo assistiu a tudo lá do alto.
Votos de Festas Felizes!
Beautiful memories, yours and now for your children also ! I hope you had a wonderful Christmas ! Beijinhos~Diana
GostarGostar
Oh querida… faz tão bem às crianças estes encontros com a natureza 🙂
Lembro-me de ir todos os anos buscar dois pinheiros à quinta de uma vizinha. Trazíamos o nosso pinheiro e o dela no tejadilho do carro e musgo, muito musgo para o presépio. E como eu ADORAVA!!!
De certeza que essa memória os vais perseguir o resto da vida como nos persegue a nós.
Um ano de 2015 cheio, cheio de amor, saúde e muitas paz.
Imensos beijinhos minha querida para toda a tua família, que ADOREI.
C
GostarGostar