Há dias, eu falava da minha vontade de chamar o verão. A primeira tentativa materializou-se numa sardinhada que apanhou chuva. A segunda e a terceira tiveram ambas lugar na praia. Acho que é o silêncio, o vazio e a imensidão deste local que me atrai no inverno. De verão prefiro as zonas balneares de rocha.
Gosto especialmente dos passeios nas praias sem gente ou com pouca gente, como foi o caso de há três dias atrás. As personagens desta odisseia foram: eu, a herdeira mais nova e o Max, o fiel Labrador preto. Na tarde de terça-feira de Carnaval, enquanto metade da população descansava das noitadas de folia e a outra metade se preparava para queimar os últimos cartuchos do Entrudo, estacionei o carro junto à praia da cidade onde vivo, coloquei a trela no Max, ajudei a pequenita a retirar os apetrechos de praia e descemos a longa escadaria até ao areal. Eram três da tarde. O sol ainda ia alto mas nada abrasador. Sentia-se uma brisa quente e um cheiro a maresia inigualável. Na praia estavamos nós, um casalinho de namorados, que deitados partilhavam uma toalha, e dois mergulhadores, que acabavam de chegar à areia com alguns polvos pequenos presos à cintura. Desta vez não trouxe um livro comigo. Era necessário ter atenção a dobrar. E assim dei ordens a um olho que vigiasse a criancinha e ao outro que controlasse as matreirices do canídeo. O Max sentiu uma atração imediata pelos pombos que se passeavam na praia. E era vê-lo correr feliz atrás deles, sempre com esperança de caçar algum mais distraído. Com o passar do tempo, deixou-se adotar pelo casal de namorados e quando me apercebi corria alegremente atrás deles pela praia, como se a família dele fosse agora aquela.
A filhota tentava, junto ao areal molhado, fazer um castelo que, condicionada pela magia própria da idade, rapidamente transformou num bolo de aniversário com uma cereja grande no topo, feita com uma bola de areia, claro.
A tarde estava perfeita, até eu avistar no cimo da muralha o funcionário dos parquímetros que, ao desbarato, disparava notificações de estacionamento em todas as direções onde houvesse carros sem ticket. Pelos vistos, terça-feira de Entrudo já não é dia de festa. Não houve assim tolerância em dia de “tolerância de ponto”. Assobiei, o Max veio a correr na minha direção, subimos os degraus do paredão até à estrada de calçada. Lá estava ela, a notificação, presa ao pára-brisas e estática porque não havia vento. Por coincidência, do outro lado do caminho encontrava-se a sede da empresa onde se podia proceder ao pagamento da referida multa. Estacionei em frente ao edifício e a minha filha de cinco anos, sem saber o que se passava pergunta-me: Mãe, o que vais fazer à Loja do Mobilidade? O que vais comprar? É o que dá ter uma filhota que no seu último ano de Pré-Escolar já lê tudo o que lhe aparece pela frente – pensei eu. Respondi-lhe: Ficas aqui no carro com o Max que a mãe vai, num instante, aqui a esta loja. Quando regressei ao carro, perguntou-me apreensiva: Só trazes papéis! Só vendem papel nessa loja? Pois é! – respondi-lhe, enquanto guardava o recibo do pagamento e a cópia do documento de reclamação que registei no livro amarelo. Saiu-me caro o passeio, pensei eu, mas valeu a pena por tudo o resto que antecedeu este incidente.
Tive um destes cães. Acompanhou-me durante uns bons anos. Morreu com uma doença estranha. O meu pai teve um desgosto como nunca lhe adivinhei. A família toda. Mas muito ele. O teu Max fez-me pensar no Lucky. Muito semelhantes.
O teu incidente faz pensar nas ironias e nas injustiças do mundo. Mesmo em dias de tolerância. Lindas, as imagens.
Um abraço grande.
Mar
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Não há nada como o mar, realmente. O meu passeio foi de rio e relva, mas agora com o sol a querer ficar, vai de certeza ser de praia.
Que menina fofa e Labrador é o meu cão de eleição, pena que não posso ter um em casa, sem varanda nem terraço… É complicado e penoso para o animal.
Muitos beijinhos e… Lamento a multa num dia tão bom.
CláudiaV”
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Um dia em cheio e que foi sem dúvida manchado por essa estúpida multa, mas é como dizes, o passeio saiu caro mas valeu a pena com certeza e a ver pelas fotos, a felicidade reinou!
Beijinhos e boa semana,
Lia.
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