Como afirmei aqui, as Festas do Espírito Santo celebradas nos Açores são vividas pela maioria dos habitantes com um misto de devoção e de oportunidade de saborear os pratos típicos desta época. Cumprindo a promessa que vos fiz a semana passada, trago-vos os sabores que são tradicionalmente servidos durante uma Função: as sopas do Espírito Santo, o cozido, a alcatra e o arroz doce.
Todos estes pratos foram confecionados para o almoço do batizado do meu afilhado e da profissão de fé do meu sobrinho e do meu filho, que se realizou no domingo passado.
Este foi o bolo da festa, de autoria do chefe da Pastelaria O Forno, em Angra do Heroísmo. No interior do bolo, o pão de ló contrastava na perfeição com várias camadas de creme de ovos e amêndoa torrada.
Cozido e Sopas do Espírito Santo
Ingredientes para 10 a 12 pessoas
2 kg de carne de vaca
2 frangos
500 g de fígado de vaca
250 g de sangue de vaca (coalhado)- já comprei cozido
2 pés de porco
500 g de barriga de porco salgada
500 g de bacon
1 chouriço de sangue
1 chouriço de carne
1 linguiça
4 dentes de alho
2 cebolas grandes
1 ramo de hortelã (grande)
2 colheres de sopa de massa de malagueta
2 colheres de sopa de banha
1 colher de chá de colorau
6 a 8 grãos de pimenta
1 dl de vinho de cheiro ou tinto
1 folha de louro
sal grosso
Legumes necessários:
1 repolho
8 cenouras
20 batatas brancas
6 batatas doces médias
Modo de Confeção
1. Colocam-se dentro de um saco de pano (o qual denominamos de boneca) os alhos, as cebolas aos quartos, a hortelã, os grãos de pimenta e o louro.
2. Enche-se uma panela alta com água até meio e introduz-se o saco com os temperos. Deixa-se ferver.
3. Juntam-se as carnes de vaca, a linguiça, os chouriços e o bacon e deixa-se cozer.
4. Num tacho à parte, colocam-se as carnes de porco e cobrem-se água. Levam-se a cozer. Descarta-se a água desta cozedura.
5. Quando a carnes de porco estiverem cozidas, juntam-se ao tacho com as carnes de vaca.
6. Quando ambas as carnes acima referidas estiverem quase cozidas, introduzem-se na panela os frangos partidos ao alto e deixam-se cozer. Prova-se o cozido e retificam-se os temperos.
(Adicionei nesta fase o sangue cozido aos cubos)
7. Acrescenta-se à panela do cozido o repolho partido em quartos.
8. Retira-se da panela caldo suficiente para num tacho à parte serem cozidas as cenouras e as batatas brancas. O caldo sojebante da cozedura voltará à panela do cozido.
9. Noutro tacho, colocam-se a cozer as batatas doces bem lavadas e com casca.
Preparação das Sopas
1. Corte horizontalmente o pão de água e as fatias obtidas em metades.
2. Barre-o ligeiramente com manteiga, coloque-o numa terrina e disponha, nas diferentes camadas, folhas de hortelã.
3. Regue-o com o caldo do cozido até as sopas terem absorvido todo o caldo. Ficam assim escaldadas. Tape a terrina e deixe as sopas descansar durante 10 minutos.
4. Volte a regar as sopas com mais caldo e espalham-se pela superfície das fatias folhas de repolho. Tapa-se novamente a terrina e embrulha-se em cobertores, deixando-se assim agasalhada até serem as sopas servidas.
Dica: Costumo colocar por cima das sopas um pouco do molho da alcatra (receita que abaixo explicarei)
Cortam-se todas as carnes constantes do cozido e servem-se em travessas, conjuntamente com as cenouras e as batatas.
Este cozido é acompanhado com pão de leite e vinho de cheiro ou tinto.
Depois do cozido de carnes, é servida a tradicional alcatra. Esta é composta por pedaços de carne de vaca (rabadilha, chambão, cachaço) e não com a parte da vaca chamada alcatra.
Ingredientes para um alguidar grande
3 kg de (chambão, cachaço, acém, rabadilha e mão de vaca- tudo com osso)
5 cebolas médias
2 cabeças de alho (picadas)
300 g de toucinho fumado
10 grãos de pimenta do reino
10 grãos de pimenta da Jamaica
6 pau de cravo (cravinho)
1 a 2 folhas de louro
1 pau de canela (a original não leva)
1 garrafa de vinho verdelho ou, na falta branco seco ( de qualidade)
100 g de banha
sal grosso
Modo de Confeção da Alcatra
1. Unte o alguidar com banha.
2. No fundo, coloca-se uma camada de cebolas às rodelas, toucinho, chambão e um pouco de mão de vaca
3. Tempera-se com os grãos, o louro e o sal.
4. Repete-se o mesmo procedimento, fazendo camadas até se esgotarem os ingredientes. A última camada deve ser de cebolas.
5. Cobre-se tudo com vinho. Há quem coloque um pouco de água com uma colher de vinagre.
6. Termina-se com cebola, sal e nozes de banha.
7. Se não tiver forno de lenha, leve a alcatra a cozer em forno médio, durante 3 a 4 horas.
8. Se for necessário acrescenta-se um pouco de mistura de vinho e água.
9. Deve virar-se a carne a meio da cozedura e servir no próprio alguidar.
10. A Alcatra é acompanhada com fatias de massa sovada.
A sobremesa típica das funções é o arroz doce, que é normalmente servido em travessa e decorado com canela e padrões alusivos à época.
O arroz doce para a festa foi encomendado a uma senhora da freguesia do Porto Judeu que tem mãos de fada e que não conta o segredo do seu arroz a ninguém. Digamos que é a alma do seu negócio.
Vou deixar-vos a receita de arroz doce do caderninho de receitas da minha mãe, que não fica atrás da anterior.
Ingredientes
1 medida (utilizei uma chávena) de arroz carolino (utilizo por norma o de risotto)
3 medidas de água
1 medida de açúcar
5 medidas de leite gordo
6 gemas
2 cascas de limão sem a parte branca
1 pitada de sal
1. Num tacho, coloca-se a água e as cascas de limão e deixa-se levantar fervura.
2. Introduz-se o arroz na água, junta-se uma pitada de sal e deixa-se que o arroz absorva a água toda, sempre em lume baixo.
3. Junta-se uma medida de leite, mexe-se bem para que o bago do arroz comece a absorver o leite.Adicionam-se as medidas de leite aos poucos, mexendo sempre com uma colher de pau.
4. Adiciona-se o açúcar e continua-se a mexer até que levante fervura e o arroz o absorva o açúcar.
5. Retira-se do lume, e acrescenta-se as gemas misturadas com açúcar e desfeitas com um garfo, mexendo para que não cozam. Leva-se novamente ao lume por mais dois ou três minutos.
6. Coloquei o arroz em travessas e decora-se com canela a gosto.
Um excelente resto de semana para todos!
Patrícia
É pá, que isto foi comida para um regimento!
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Sim, os convidados foram muitos: família e amigos compuseram o ramalhete. Foi uma alegria.
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Adoro estas comemorações em família à volta de uma mesa composta também em família! E essa é uma mesa linda!
Beijinhos
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Obrigada Maria João. Foi de facto um dia memorável.
Que faça bom proveito das receitas e que estas sejam motivo para reunir a família e os amigos chegados.
Um abraço.
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Um post muito interessante! Não conhecia estes cozinhados e achei uma boa partilha 🙂 Beijinhos e boas festas então !
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Patrícia,
Adorei estes posts sobre as festas do Espírito Santo, dá-me umas saudades do Faial (e uma vontade de comer sopas).
É importante que estas tradições sejam preservadas.
bjs
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Meu Deus Patrícia, que coisa maravilhosa! Isso é para nos deixar a todos de queixo caído e água na boca 🙂
Beijinhos
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