Malassadas e as memórias escondidas em sabores

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Aqui nos Açores, as malassadas são um doce típico da ilha de S. Miguel. Este bolo de massa frita é mais confecionado no período que compreende a passagem de ano e o Carnaval.

Lembro-me de uma pastelaria que as vendia, junto à Escola Roberto Ivens. Não sei se a dita pastelaria ainda existe, mas ficou-me na memória o sabor deste doce, com um toque de raspa de limão. Devido ao facto desta pastelaria se  situar perto da universidade, sentia-me sempre tentada a dar mais umas passadas até à rua abaixo e cair na tentação de saborear uma malassada. Eram grandes e muito favadas por dentro, de tão lêveda que estava a massa. Na altura, não existiam preocupações em contar calorias. Comia-se e pronto. Também se andava muito a pé, o que compensava.

Este fim de semana, deparei-me com malassadas à venda no  hipermercado. Sei que não se deve ir às compras de estômago vazio, pois apetece-nos comprar tudo, mas não resisti e comprei duas malassadas. Que deceção. Tinham sido feitas nesse dia mas estavam duras e muito compactas, ou seja, amaçarocadas, como aqui nos Açores se diz. Lembrei-me das malassdas que comia nos tempos da faculdade e resolvi recriar memórias escondidas em sabores. Acho que consegui. Exagerei novamente porque, infelizmente, não consigo comer uma e esperar pelo dia seguinte para saborear outra. Consolei-me, também como se diz por cá.

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Até hoje, nunca me preocupei com a origem do nome, apesar de o achar intrigante. Vejam os significados da palavra malassadas presentes no dicionário Priberam da Língua Portuguesa.

mal·-as·sa·da
(mal- + assada, feminino de assado)

substantivo feminino

1. [<dominio_ext_aao>Culinária]  Fritura de ovos remexidos. = OMELETA

2. [Portugal: Açores, Madeira]  Bolo arredondado frito, muito fofo, de farinha e ovos, semelhante aos sonhos. (Mais usado no plural.)

3. [Brasil]  Cataplasma de plantas medicinais.

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Esta é a receita que faço, quando sinto saudades das malassadas, e a que dá sempre certo. A receita original não contempla os flocos de batata, mas adiciona 1 colher de banha de porco.

Ingredientes

500 g de farinha

100 g de flocos de batata

1 colher e meia de sopa de açúcar

3 ovos

1 cálice de água-ardente

60 g de manteiga

30 g fermento de padeiro (o equivalente a uma carteira de fermipan- 11 g)

380 ml de água

raspa de um limão ou de laranja (utilizei de tangerina – 2 unidades)

1 colher de chá de sal

óleo para fritar

açúcar e canela para polvilhar

Preparação tradicional

Num alguidar, dissolve-se o fermento e o sal em água morna. Vão-se adicionando os restantes ingredientes, começando sempre pelos flocos de batata. Bate-se a massa com as duas mãos, como se essas fossem duas pás, incluindo um ovo de cada vez, até todos os componentes estarem bem incorporados e a massa se mostrar elástica e com tendência a agarrar-se às mãos (com a consistência de um polme grosso).

Seguem-se depois os passos de 4 a 8 marcados abaixo.

Preparação na Bimby

1. Seleciona-se o botão de balança e no copo da Bimby pesa-se 380 g de água. Adiciona-se o sal e a saqueta de fermento.

2. Marca-se 37 graus e 2 Minutos.

3. Adicionam-se primeiro os flocos de batata e depois os restantes ingredientes. Marca-se 3 minutos Vel. 5 e depois 1 minuto Vel. Espiga.

4. Coloca-se a massa  a levedar dentro de um tupperware fechado e envolto num cobertor até que dobre de volume (cerca de 2 horas).

5. Depois da massa ter levedado, unta-se os dedos com óleo, tiram-se bocadinhos da massa aos quais se dá a forma circular com uma espécie de quase buraco no meio.

Dica. Em vez do óleo, prefiro enfarinhar as mãos todas as vezes que vou buscar mais um pouco de massa. Evita que se agarre às mãos e facilita a moldagem da massa e a colocação desta no óleo quente.

6. Fritam-se em óleo bem quente. O tempo de fritura diverge consoante o tamanho da malassada, mas assim que esteja dourada de um lado vira-se para atribuir do outro lado um  dourado semelhante.

7. Colocam-se as malassadas em cima de papel de cozinha  para que a gordura excedente seja absorvida pelo papel. Costumo encostar as malassadas umas às outras, ao alto, evitando que fiquem deitadas. Assim ficam sequinhas.

8. Depois de escorridas, envolvo-as de imediato na mistura de açúcar e canela (utilizo um prato de sopa)

Obs. No caso de ser principiante a fazer esta receita, convém fritar apenas uma malassada, verificar se o seu interior está cozido e depois monitorizar a fritura a partir daí, conferindo mais ou menos tempo a cada face. Isto evita que o interior da malassada fique cru e que o produto final não seja o desejado.

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São servidos? 

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13 Replies to “Malassadas e as memórias escondidas em sabores”

  1. Um destes dias estava a ver o Chopped e um dos concorrentes do Hawai fez malassadas. Explicou que era de origem portuguesa, um dos júris confirmou, dizia que era português também. Fiquei intrigada. Português? Nunca tinha ouvido falar. Agora está explicado, é mesmo português 🙂
    Que óptimo aspecto!
    Boa semana

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  2. E sabe tão bem um consolo destes de vez em quando 🙂
    Bem sei!
    Nunca comi as malassadas, conheço de nome e imagino que seja boas, como sonhos. Adorava poder comer uma ainda morninha!!
    Um beijinho.

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  3. Olá Patrícia! quero dizer-lhe que fiz hoje a receita das suas malassadas que ficaram uma maravilha, e o meu pai que é quem faz as filhoses fritas na familia teceu-lhes rasgados elogios,(não tivesse ele sido padeiro a vida inteira,e bom entendedor de massas)obg por ter partilhado a receita bj e bom fim de semana.Ana

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  4. Olá Patricia!
    Como gostei de ver as tuas malassadas lindas e gulosas e de ler as recordações que guardas com tanto carinho. Esta semana e num programa de televisão, mostraram uma peça sobre a Ilha de S. Miguel e comentaram a especialidade do Carnaval, que aí não tarda. As Malassas e eram as rainhas da festa, estavam a prepara-las e também a fritar, fiquei com água na boca e agora tenho-as aqui para poder experimentar.
    Beijinho grande

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  5. Adorei ver a sua receita! Sou de São Miguel, apesar de neste momento não estar lá. Mas lembro-me tanto da minha avó fazer, e eu e os meus primos corríamos logo para a casa dela, e no fim de tanto comer malassadas ficamos todos melados. 🙂

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  6. Só para veres que estive por aqui hahahaha
    Não tenho flocos de batata nem aguardente hahahaha
    Tenho que comprar :))
    beijokas

    P.S. mas eu vou fazer

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