Quando olhei para a fruteira reparei que sete maçãs permaneciam ali, estáticas, já há dias. Outras frutas da época têm-se sobreposto. Três variedades diferentes: duas Canada Gris, as minhas favoritas, três Golden, as preferidas da minha filha e duas JonaGold, as eleitas do meu marido. Pensei em assá-las na Actifry com vinho do Porto, canela e gengibre como fiz aqui, mas coloquei a ideia de lado por se tratar de maçãs com consistências diferentes. Decidi então preparar um puré de maçã. Operacionalizou-se um clique instantâneo e viajei em analepse. Curioso. Teletransportei-me até aos primeiros anos de vida dos meus filhos. Visualizei-me a descascar pacientemente maçãs e pêras e a colocar os pedaços num tachinho com pouca água. Vi-me a pôr a fruta já cozida no copo da varinha mágica – na altura ainda não tinha a Bimby, e ter-me-ia sido muito útil- e a triturá-la pacientemente para transformá-la em cremosos purés caseiros. Ritual quase diário este que instintivamente revivi após olhar para simples maçãs esquecidas na fruteira, numa estação em que o calor e a humidade não ajudam a conservar.
Experimentei o puré, ainda morno. Não resisti. Fechei os olhos. Deliciei-me com as memórias de outros tempos. Um bébé em casa. Hora da papa. Hora da sopa. Hora da fruta cozida. Tempos cronometrados para a infinita missão de cuidar de uma criança. Tempos difíceis mas que passaram demasiado rápido. A evolução natural, dizem.
Coloquei o puré em quatro tacinhas.
Inovação (se assim se poderá denominar):
Polvilhei com açúcar mascavado escuro nas taças dos menos gulosos. A minha teve direito a um intervalo de açúcar mascavado entre a maçã que, no meu entender, contribuiu para um ar riscadamente apelativo.
Uma receita demasiado simples, dirão muitos. Um espaço dedicado a algo tão pouco elaborado, dirão outros. Fiquemo-nos então pela intenção do gesto de cozer fruta. Grandioso na sua simplicidade, não acham?
O espaço e a receita nunca são desperdiçados, especialmente quando acarretam tão boas memórias. E um puré de maçã é daquelas coisas simples que conforta 🙂
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Este post foi de facto uma viagem no tempo. Obrigada pelas palavras. um abraço.
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Bem, é instantâneo em mim associar puré de maçã a bebé 🙂 As minhas meninas já não estão assim tão bebés, mas tenho muitas saudades dessa altura. Da maneira como um bebé pôe a nossa vida de pernas para o ar, e de como isso nos sabe bem e marca. Como o puré de maçã. Para sempre bebé, não há volta a dar. Lembro-me da primeira colherada da Madalena, a minha filha mais velha. Na pontinha da colher, e ela desajeitadamente a pôr para fora com a língua, desconfiada :9 Depois pouco a pouco a querer mais. Adoro um post assim, que me provoca tão boas memórias 😉
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Fez-me lembrar o Ratatuille, quando o ratinho serve ao grande crítico gastronómico um simples guisado que o transporta para a sua infância e a cozinha da mãe.
E isso é realmente “food with meaning”, como este puré. Tenho um menino de 4 anos e parece que foi há um século que preparava as suas papinhas, com fruta biológica vinda da quinta dos avós, em Trás-os-Montes.
Obrigada por esta recordação.
Beijinho da Ruthia d’O Berço do Mundo
http://bercodomundo.blogspot.pt/
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Olá Cristina. Acho que este é mesmo um post para as mães. As memórias dos purés de fruta são coletivas e muito nossas. O seu testemunho da primeira colherada de puré de maçã da Madalena é deveras delicioso. Fiquei logo a imaginar uma boquinha pequenina e intrigada com um novo sabor.
Obrigada por ter passado por cá.
Um abraço.
Patrícia
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Olá Ruthia.Bem-vinda ao foodwithameaning. Gostei muito da analogia com o Ratatuille. Também tenho uma menina com 4 anos e sinto que o tempo passou a correr. Daqui a dois anitos já começa na escola. Mais uma coincidência: também tem avós trasmontanos, da aldeia de Gimonde.
Obrigada por estas partilhas e volte sempre.
Um abaço.
Patrícia
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A comida pode ter isso de nos levar a outros sítios, a outros momentos. Tão bom, que uma colher de puré de fruta possa fazer viajar… Memórias que todas as mães têm. Comigo a dobrar 😉 papas de fruta aos meus dois gémeos. E descobrir que um gosta mais de fruta do que outro. Até agora! Tão diferentes nos gostos!… Viiu? Também me levou lá atrás!…
Babette
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Olá Babette. Memórias coletivas as nossas, as de mães. E purés de fruta a facilitar essas viagens.
Um beijinho para si mais dois para cada um dos seus meninos.
Patrícia
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