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No passado mês de agosto, tive a sorte de conhecer pessoalmente Joaquim de Magalhães Fernandes Barreiros. Encontrámo-nos, por mero acaso, na unidade hoteira Aldeia da Fonte Nature Resort, enquanto eu andava em preparativos para dois showcookings que fui dinamizar, na ilha do Pico, na tradicional Semana do Baleeiro, a convite da Câmara Municipal das Lajes. Ter um encontro imediato, quase “de terceiro grau”, com Quim Barreiros, porque fora do contexto musical, acabou por ser um privilégio, sobretudo porque fui convidada para jantar com a sua equipa e amigos pessoais. Habituados que estamos, em ambiente de espetáculo, ao tom brejeiro e humorista deste artista, confesso que mostrei, de início, alguma timidez (quem não a teria?), mas, curiosamente, a conversa fluiu. Após esse encontro casual e passadas as apresentações habituais, através das quais chegámos à conclusão de que ambos tínhamos algo de “chefes de culinária” (risos), o artista, sem pressas, quis saber quem eu era, questionou-me sobre pormenores do meu projeto culinário e deu-me várias sugestões, fruto da sua experiência de 7 décadas de vida, e mais uns trocos, segundo ele. De entre alguns gracejos habituais, menos do que os que eu antecipara, os nossos diálogos assumiram quase sempre um tom sério e informal, o que me conduziu a uma leitura muito diferente do homem que, tal como eu, aproveitava a paz e serenidade dos jardins da Aldeia da Fonte, galardoada internacionalmente pelo programa Green Key, por cumprir um conjunto de requisitos ambientes em diferentes áreas. A ideia que a generalidade do público tem de Quim Barreiros está associada à rima popular, com trocadilhos de foro sexual, e ao sorriso fácil. A imagem de qualquer artista acaba sempre por ser o produto do que o mesmo decide mostrar de si e das conclusões que os jornalistas e a opinião pública constroem sobre essa mesma pessoa. Ali, durante a nossa conversa, não havia que provar nada a ninguém. Não existia um público para animar e também não havia a conversa furtuita, nem os autógrafos habituais. O jantar, marcado para as oito, decorreu de forma descontraída, afinal o concerto estava só agendado para as 24:00, uma hora um pouco tardia para os velhinhos e para as crianças, segundo ele. Mas era verão. O Joaquim desfez-se de atenções para com todos os presentes na mesa, somente interrompidas por alguns telefonemas e pelas fotos da praxe, com os fãs. As deslocações para concertos nas ilhas (confidenciou) acrescentam-lhe sempre algum nervosismo, devido ao estado do tempo e a possíveis cancelamentos nos transportes aéreos, que podem vir a condicionar os concertos agendados para os dias seguintes. Disse-me que anda sempre a compasso do relógio, mas que continuará até quando tiver forças e for acarinhado pelo público. Afirmou, ainda, que adora sol e praia e que sempre que pode refugia-se em destinos que lhe podem proporcionar água salgada e vitamina D. Precisa de ambos para recarregar as baterias. Falou do seu amigo Almerindo, da Terceira, dono, acrescentou, do melhor restaurante da ilha, O Pescador. Concordei que era de facto um dos melhores. A ementa do nosso jantar, com a assinatura da chef do Aldeia da Fonte Cuisine, foi bastante interessante. De matriz mediterrânica, recriou, com os ingredientes regionais, sabores e texturas ímpares, através de novas técnicas de culinária e empratamentos bem conseguidos, tendo sido muito elogiada por todos os convivas. Em alguns pratos esteve presente a cozinha de fusão, onde ingredientes e sabores orientais e ocidentais foram conjugados com mestria. A sala do restaurante e a esplanada estavam cheias e não fora a nossa mesa, de cunho bem português, as restantes vozes pertenciam a falares de outras paragens. Um cluster de sons num espaço com boas energias, onde o rei da mesa continuava, e com o devido mérito, a ser Quim Barreiros, cuja voz parecia destacar-se acima das demais, sem que esse facto fosse despropositado ou incomodativo. Era a maneira de ser deste humilde homem do Minho.

Quim Barreiros, que nasceu a 19 de Junho de 1947 em Vila Praia de Âncora, concelho de CaminhaDistrito de Viana do Castelo, é um dos mais famosos cantores populares portugueses, conhecido pelas suas letras de duplo sentido, que ganham sonoridade através do seu fiel companheiro, o acordeão. Aos 9 anos já tocava bateria no conjunto de seu pai (Conjunto Alegria). O seu primeiro disco foi lançado em 1971, juntamente com o famoso guitarrista Jorge Fontes, quando apenas tocava acordeão e folclore minhoto. A sua fama estendeu-se já ao Brasil e à Galiza, tendo já atuado em quase todos os países onde existem comunidades de portugueses (CanadáE.U.A.VenezuelaBrasilÁfrica do SulFrançaAlemanhaLuxemburgoEspanhaInglaterraSuíça, etc.). Desde há muitos anos, é presença obrigatória nas mais variadas festas, desde conceituados eventos em grandes salas de espetáculo, como nas celebrações mais populares juvenis e estudantis. Não há queima das fitas, ou festa de receção aos caloiros, que não conte com a presença deste artista. A sua popularidade é incrivelmente transversal a todas as faixas etárias.

Algumas das suas músicas mais conhecidas incluem “Mestre de Culinária”, “A Garagem da Vizinha” e “A Cabritinha”, mas o seu trabalho discográfico é contínuo e repleto de êxitos. De mestre de culinária a aprendiz de alfaiate, ninguém o para!

A convite da comissão de festas de São Carlos, avizinha-se uma grande noite de sexta-feira, na companhia deste artista popular. E eu vou lá estar para cumprimentar o artista e o homem.

 

Patrícia Cheio

(autora do site Foodwithameaning)
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4 Replies to “À Mesa com Quim Barreiros e amigos”

  1. Olá Patrícia 😘😁 Muito me surpreende 🙃😅 não sei onde arranja tanta Energia e quem diria que ia estar com o QB 😂 Gostei imenso do seu Artigo; muito bem escrito e interessante 👏😁 Beijinhos 😘 tia Mito’

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