O equinócio de outono refere-se ao instante em que o sol cruza o plano do equador celeste, o que acontece em setembro no hemisfério norte e em março no hemisfério sul.
As folhas das árvores já vão caindo no chão, amarelecidas e acastanhadas. O vento já sopra mais fresco. As nuvens já riscam os ares criando formas imaginárias. As gentes apanham as uvas, carregam os cestos de vimes e dirigem-se aos lagares.
Começou a nova estação.
Brindemos então ao outono com vinho doce.
Estas uvas não foram pisadas tradicionalmente, mas quando as estava a espremer o cheiro das uvas fez-me viajar até ao passado. Naquela época, a escola apenas começava em outubro, prolongando-se as férias de verão até ao final de setembro. Eu e os meus irmãos ficávamos com a avó e a bisavó na ilha do Pico, apanhávamos as uvas dos nossos terrenos de vinha e íamos transformar a uva em vinho doce num lagar situado dentro de uma atafona vizinha. Nós adorávamos ver o vinho doce escorrer para uma selha de madeira. Íamos à bica com um copo e deliciávamo-nos, à vez, com aquele sumo de uva limpo de corantes e conservantes. Ainda me lembro de ver a minha avó a arrancar-nos o copo da mão e dizer em tom de repreensão:
– Já provaram sumo suficiente! Querem ter uma dor de barriga e passar a noite na retrete?
A ida a esta casa de banho tradicional, que ficava fora da casa, já era por si só um sacrifício. Imaginarmo-nos lá a pensar mais tempo do que o necessário, e em clima noturno (para não dizer soturno), intensificado pelo som gutural dos cagarros, aves da noite, seria uma tortura para o nosso pensamento infantil.
Depois da vindima, o vinho era armazenado em barricas de carvalho e trazido no porão do barco que nos fazia regressar à ilha Terceira onde morávamos.
Ingredientes
1,5 kg de uva (da casta americana Isabelle (por vezes designada por Isabel ou Isabela)
200 ml de água
açúcar ( a gosto e opcional)
Preparação na Bimby
1. Coloquei os bagos de uva lavados dentro do copo. Marquei 1 minuto Vel. 6-7-8-9-10.
2. Adicionei a água e voltei a marcar 30 seg. vel. 6-7-8-9-10.
3. Coloquei o cesto dentro do copo e escorri o sumo para dentro de uma taça através de um coador grande. Mexi com uma colher de pau a mistura dentro do coador até ficar sem sumo.
4. Verti o sumo da uva para um jarro. Provei para me certificar se necessitaria de mais um pouco de água ou de açúcar. Optei por adicionar um pouco de açúcar.
5. Juntei ao jarro umas pedras de gelo e servi.
Obs. Convém não ingerir o sumo puro por ser um pouco laxante.
Com esta receita de vinho doce e com as minhas memórias participo no Passatempo Conservas Nero e Limited Edition.
Uma excelente semana! Já de outono.
estou a imaginar-te a correr para essa casa de banho porque abusaste do vinho doce.. 😉 beijinho e obrigada por participares
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Poupei-vos a alguns pormenores, mas antigamente a casa da minha avó não tinha casa de banho incorporada. Ainda me lembro do tampo em madeira e da abertura circular com uma pega. Nunca me atrevi a olhar para aquele buraco escuro mas imaginava constantemente que ali viviam as piores criaturas deste mundo que me poderiam atacar de surpresa.
A mente infantil é mesmo fértil.
Um abraço.
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Uma receita diferente 😉 gosto!
Beijinhos
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Que história curiosa! Nunca provei essa bebida mas fiquei com vontade. Lembro-me bem dessas férias às vezes de 4 meses passados na praia;)
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Patrícia, que linda participação! Lembra-me a casa dos meus tios na terra do meu pai… lá fora (e também com o buraco e o tampo de madeira, ehehehe). Adorei!
Beijinhos
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Tenho a firme certeza que aconteceu por lapso, no entanto, não deixe de corrigir, o equinócio de outono ocorre em setembro no hemisfério norte, precisamente a melhor altura para degustar esse magnifico vinho doce.
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Obrigada Miguel. Foi mesmo lapso. Já corrigi. Este sumo de uva é, como diz, mesmo magnífico.
Um abraço
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