Este mês lecionei várias aulas de substituição a uma turma de quem todos os professores “fogem”, por pertencer ao programa Oportunidade. Isto equivale a dizer que quando nos dirigimos à sala já vamos com vontade de a aula chegar depressa ao fim e tentamos sabiamente gerir as circunstâncias para que não aconteçam conflitos de maior. Desta turma fazem parte adolescentes sem motivação para o estudo, com interesses divergentes dos escolares; são também, na sua grande maioria, provenientes de contextos sociais com dificuldades diversas. Como cativar a atenção e mantê-los interessados nas tarefas que lhes vou propor constitui sempre um desafio. Esta semana que passou, e para meu espanto, foram eles que me propuseram uma atividade. Confesso que de início fiquei de pé atrás. Tínhamos noventa minutos de aula à nossa frente, sem planificação por parte da professora titular devido ao facto de esta estar de licença de maternidade e a turma se encontrar a aguardar outro professor.
– Professora! Podemos ver um filme.
– Um filme? – retorqui.
– Sim, professora. Nós, na disciplina de Formação Pessoal e Social, começámos a ver um filme, mas depois a professora teve o bebé e não acabámos.
– Como se chama o filme? – perguntei.
– Cyberbully – respondeu um aluno da fila de trás sem se preocupar com a pronúncia correta da palavra inglesa, aportuguesando-a, portanto. Não corrigi. Não era essa a intenção.
– Não conheço esse filme – disse – e não costumo projetar filmes sem os ter visto primeiro. Gosto de analisá-los para ver se são adequados às circunstâncias.
– Não acho bem- disse-lhes.
– Ó professora, por favor. Começámos a vê-lo com a diretora de turma, mas ela agora não está. O filme passa-se numa escola. Não tem nada de mal. Eu tenho o filme aqui na pen. Saquei-o da net para continuarmos a ver.
– De que fala o filme? – perguntei a um aluno encapuçado sentado na terceira fila junto à parede, que ainda tinha os phones nas orelhas.
Não me respondeu. Reparei então que continuava com o mp4 ligado. Fiz-lhe sinal para que desligasse e perguntei-lhe de que falava o filme que tinham começado a ver. Quis saber até que ponto já tinham abordado o problema. Ele deu-me uma resposta surpreendente. Senti então que a turma estava motivada e acedi à visualização, confiando na palavra deles. Arrisquei, portanto.
Durante a visualização do filme nunca os senti entediados. Pela primeira vez, via-os motivados e interventivos. Estava maravilhada. Interrompiam pontualmente mostrando que o tópico do bullying os incomodava. Sugeriam uns aos outros planos de ação (Se eu fosse ela contava à mãe o que se passava. Se eu fosse ela fazia queixa delas na escola. Se eu fosse ela fazia-lhes o mesmo para elas sentirem o mesmo sofrimento).
Fica então aqui esta sugestão de filme. No meu entender, todos os pais deviam assistir a este filme com os seus filhos, tendo em conta que a problemática do bullying está cada vez mais presente na vida dos jovens e dos menos jovens, no quotidiano das escolas e nas redes sociais.
Agradeço imenso ter colocado o trailer pois vou mostrá-lo ao meu filho de 13 anos pois infelizmente ele sofre muito com isso, apesar de ser uma criança bem constiuida .
Iniciativas como essa é que falta nas nossas escolas 😀
Tenho dois filhos, uma de 25 e outro de 13 anos, e a educação que dou a um é igual para o outro, contudo, e porque não somos todos iguais, a minha filha (mais velha) era mais interessada nos estudos que o irmão.
Tenho vindo a esforçar-me para explicar ao mais novo que os estudos são essenciais para quando ele for adulto… mas… ele ainda não se interessa muito por esses pormenores e não me liga a minima
Obrigada mais uma vez 🙂
Um bem haja 🙂
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Olá Rosa. Depois de termos filhos tudo muda. Apesar de sabermos que os criamos para o mundo, nem sempre eles estão preparados para enfrentá-lo, especialmente quando se deparam com problemáticas como esta que aqui descrevo. Tenho dois filhos, uma menina de 4 e um menino que faz agora 12 anos que adora ler e é bom aluno, pelo menos por enquanto. Às vezes a adolescência e a sociedade fazem estragos nos nossos filhos, mas para isso é que nós servimos: para os orientarmos no que pudermos. Gostei imenso da sua visita. Espero que o trailer do filme seja inspirador.
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Obrigada Patrícia 🙂
Certamente que ele irá gostar sim.
Bjs
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