Donas Amélias para D. João V….Convidei para Jantar

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À minha mesa esteve um imponente elemento da aristocracia portuguesa do século XVIII, D. João V, rei absoluto, a quem foi atribuído o cognome de o Magnânimo por ter sido um rei com um grande caráter. Apesar de muito rico, devido às grandes quantidades de ouro e pedras preciosas vindos do Brasil, era muito generoso na distribuição e aplicação da riqueza, sobretudo no investimento que fez nas artes, nas ciências e na cultura em geral.
O gosto pelas artes e pelo luxo fizeram com que as cerimónias oficiais da época, os cortejos e as embaixadas, que enviava ao estrangeiro, nunca passassem despercebidos tal era a sua grandiosidade e sumptuosidade.
A vida de D. João V na corte era repleta de  animosidade. Foi conhecido por organizar extensos banquetes, bailes, concertos de cravo, de violino e canto, espetáculos de teatro, jogos de salão e fogos de artifício, eventos estes que tinham como cenário ricos salões decorados segundo a arte barroca, adornados com talha dourada, pinturas, esculturas e com imponentes candeeiros de cristal que pendiam dos tetos altos.
Às mesas dos banquetes chegavam todo o tipo de iguarias, servidas, por empregados impecavelmente vestidos, em peças de porcelana ou em salvas de prata, de acordo com as regras de etiqueta trazidas de França. Não faltava igualmente as novidades da época, como o café, o chocolate, o chá e o tabaco moído.
Nos bailes, onde se dançava o minuete e a pavana, toda a corte se passeava com ricos fatos que seguiam a moda francesa, com destaque para os saltos altos, quer no feminino como no masculino, os tecidos bordados – veludos, brocados, sedas e rendas- com fio de ouro e pedras preciosas, cabeleiras postiças de grandes dimensões com caras empoadas com pó de arroz branco e lábios pintados de vermelho vivo.

Ofereci a D. João V um lanche onde não faltaram variadas iguarias, mas onde se destacou a queijada D. Amélia, um doce tradicional criado e ofertado, pelas doceiras da ilha Terceira, à  Rainha D. Amélia , esposa do Rei D. Carlos, aquando da visita régia  que ocorreu em 1901.

Donas Amélias

500 gramas de açúcar
9 gemas de ovos
4 claras (batidas em neve)
200 gramas de manteiga (derretida e fria)
200 gramas de farinha de milho (o mais peneirada possível)
1 colher (de sopa) de canela em pó
6 colheres (de sopa) de mel de cana
100 gramas de passas
50 gramas de cidrão (picado muito fino)
raspa de 1 limão pequeno
1 pitada de sal
1 colher (de café) de noz moscada
Bate-se o açúcar com as gemas até formar uma massa presa, juntando-se depois a canela, as passas, o cidrão, a noz moscada, a raspa de limão e o sal.

Bate-se mais algum tempo, e quando estiver bem ligado, junta-se a manteiga derretida e fria, de seguida, as claras batidas em neve, e por último, a farinha e o mel.

Sempre que se junta qualquer dos ingredientes mencionados, bate-se a massa a fim de os ligar.

Vaza-se a massa em pequenas formas (untadas e polvilhadas) e vão ao forno , não muito quente, em tabuleiros.

Quando cozidos, retiram-se das formas e polvilham-se com açúcar refinado.

Fonte da Receita: Delícias e Companhia

Com o rei D. João V e com as D. Amélias, doce típico da gastronomia terceirense, participo na 8º edição do Convidei para Jantar, criado pela Ana, do blogue Anasbageri, um maravilhoso projeto agora dinamizado  pelo blogue Alice na Cozinha Maravilha.

Um resto de doce semana!

Patrícia Cheio ( dinamizadora do blogue e autora das fotos deste post)

21 Replies to “Donas Amélias para D. João V….Convidei para Jantar”

  1. Mas que belas queijadinhas tão deliciosas e irresistíveis, também eu desconhecia essas maravilhosas Donas Amélias!! Não podiam ter sido mais bem escolhidas para o faustoso e magnânimo D. João V!!
    Excelente participação, gostei muito!!
    Obrigada:)
    Beijinhos

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    1. O cidrão é um citrino que resultou do cruzamento entre a toranja, a tangerina e a laranja de Sevilha. É um pouco mais pequeno do que a toranja e a casca é rugosa, de cor verde amarelada. Este citrino usa-se geralmente cristalizado e muito raramente é consumido de outra forma. Confere uma consistência mais melada à queijada. Aqui na ilha há à venda na loja Seferino e na loja Basílio Simões. Penso que poderás encontrar nas mercearias mais antigas, que vendam frutos cristalizados a retalho.
      Um abraço.

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  2. Umas quijadas reais para um ilustre convidado. Adoro essas quijadas e atrevo-me a dizer que são as minhas preferidas 😉 Ando para as fazer já à algum tempo, mas o fato de não as resisitir tem me feito desistir da ideia. Com o natal à porta, até considero fazer! Parabens pela participação deliciosa ;9

    Beijinhos

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  3. Donas Amélias são dos meus doces de eleição. Em casa, apenas fiz a versão tarte. As tuas queijadas estão com um aspeto majestoso:) Já de D. João V não tenho tão boa opinião. E talvez Saramago tenha a sua influência nestas minhas reservas em relação a este rei que, se calhar, não era assim tão magnânimo 🙂
    Bom fim de semana.
    Beijinhos,
    Ilídia

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    1. Não sei qual a opinião de Saramago em relação a D. João V – nas poucas obras que li deste autor nunca vi essa opinião expressa-, mas poderá ter a ver com o facto de este rei ter oferecido títulos e propriedades a muitos elementos do clero e da nobreza para conseguir que as suas opiniões vingassem. Nunca durante o seu reinado reuniu as Cortes, levando assim o seu poder absoluto ao extremo. Se por um lado foi um rei esbanjador, por outro foi graças a ele que hoje temos no país monumentos notáveis como o Convento de Mafra, a Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra e o Aqueduto das Águas Livres. É caso para se dizer que não há bela sem senão.
      Um abraço.

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      1. Olá novamente 🙂
        A opinião de Saramago tem a ver precisamente com os enormes sacrifícios que foram necessários para que o convento de Mafra exista. Basta pensarmos na magnificência da obra e na ausência de meios existentes na altura para pensarmos no suor e sangue que foram derramados. D. joão V é descrito como um rei caprichoso, tirano, com uma fé completamente oca, que pôs a sua vaidade acima de tudo. É literatura, é certo, mas não me parece que ande muito longe da verdade. A obra onde esta “opinião” está bem trabalhada é Memorial do Convento. Acho que é impossível lê-la e ficar a gostar deste rei.
        Um beijinho

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      2. No comentário acima ou abaixo (nao percebi bem :), só agora reparei no paradoxo “ausência de meios existentes” 🙂 Mas acho que dá para perceber a ideia 😉

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  4. A mesa ficou perfeita, talheres, argolas dos guardanapos, tudo pensado ao pormenor. Mas o centro das atenções são mesmo as queijadas que, diga-se, são ainda mais bonitas por dentro.
    Well done (como sempre)!
    Um doce fim-de-semana
    Ruthia d’O Berço do Mundo

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    1. O cidrão é um citrino que resultou do cruzamento entre a toranja, a tangerina e a laranja de Sevilha. É um pouco mais pequeno do que a toranja e a casca é rugosa, de cor verde amarelada. Este citrino usa-se geralmente cristalizado e muito raramente é consumido de outra forma. Confere uma consistência mais melada à queijada. Aqui na ilha há à venda na loja Seferino e na loja Basílio Simões. Penso que poderás encontrar nas mercearias mais antigas, que vendam frutos cristalizados a retalho.
      Um abraço.

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  5. Patricia, voce nao somente aparenta a ser uma bellissima cozinheira, mas tambem uma grande escritora!.Amo as suas historias acompanhando suas receitas, sua locução,seu humor e seu conhecimento de historia me entreteiem e me fazem sempre voltar ao seu blog…….em particular amei o reconto da sua visita as cortes antigas de D. João V! Tudo tão detalhado e deslumbrante …até visualizei as donas Amelias sendo servidas em pratinhos de porcelana …ummmm que delicia !!!
    Obrigada pelas receitas e pelas historias.

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  6. Olá Patrícia estou a adorar o seu blogue e com tantas recordações dos Açores por ter vivido numa das ilhas e tive a sorte de conhecer todas elas . Os D.Amélia estavam sempre presentes na mesa dos meus aniversários entre outras .Recordações de infância enfim…. Esta receita e outras continuam a fazer as delicias cá de casa. Beijos e obrigada por todas estas emoções……..

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