Desde criança que  assisti ao hábito de se fazer queijo-fresco em casa.  Esperava pela buzina da carrinha do “homem do leite” e corria ansiosamente para a porta. Atrás de mim vinha a minha avó já com o jarro na mão para receber o leite do dia. Junto à ombreira da porta, ficava a observar a recetividade genuína  da conversa diária  com o senhor Valdemar.  A minha avó, que quando enviuvou veio morar connosco, fazia queijo-fresco quase diariamente, mas sempre em formato familiar. Lembro-me das formas de alumínio esburacadas aqui e acolá, repletas de orifícios por onde saía o soro do leite. Ela pendurava-as religiosamente na parede da cozinha, depois de as lavar, juntamente com um caneco metálico por onde tinha o hábito de beber água.   Via-a aquecer o leite ligeiramente para receber o coalho. Não existiam termómetros para marcar os 35ºC de temperatura. Ela sabia o ponto só de colocar o dedo no leite. Ainda hoje, recordo-me, muitas vezes,  de levar para os lanches  da escola um papo-seco com  de queijo- fresco. Deliciava-me com aqueles pedaços de queijo, frágeis na textura e puros na sua cor alva. Na altura, as sandes pouco variavam: ora eram de queijo-fresco ora de manteiga ora de marmelada ora de doce.  Felizmente não havia o hábito de se barrar o pão com compostos achocolatos.

Herdei uma das formas de queijo que sobreviveu ao tempo (que coisa insólita de se herdar!).

Como há muitos anos  não fazia queijo-fresco, resolvi que este regresso às raízes teria essa forma como utensílio de honra. Depois de vários anos arrumada voltou a ser útil.

Agora já habituada a ter em casa queijo sempre fresquinho, arranjei outras formas, mais pequenas, para fazer o queijo em doses individuais.

Na minha infância não havia o hábito de associar o queijo-fresco à massa de malagueta porque este não era consumido como entrada.

Hoje,  qualquer casa de pasto  e restaurante açoriano que se preze disponibiliza o queijinho fresco acompanhado da massa de malagueta, uma combinação de sabores aglomeradora.

Ingredientes para 6 queijinhos

2 litros de leite do dia (cá vendem-se em sacos)

coalho em pó (seguir as instruções do frasco) ou em gotas (4o gotas)

sal a gosto

Modo de preparação

Coloquei o leite do dia numa panela e aqueça até a temperatura  estar entre os 35  e os 37 graus.  Nessa altura juntei o coalho e mexi bem.

Esperei cerca de duas horas até o leite coalhar. Com uma faca, fiz  cortes no leite para facilitar a libertação do soro. 

De seguida, coloquei o utensílio metálico com orifícios, que vem com a panela de pressão, e que é utilizado para cozinhar  a vapor, em cima de um tacho, que deve ter o mesmo diâmetro, de forma a que um assente no outro.

Coloquei dentro do utensílio metálico a seis formas pequenas, também esburacadas (compram-se no latoeiro ou fazem-se em casa com recurso a tubos cinzentos de plástico e um berbequim).

Enchi-as até ao cimo com pedaços de queijo. Temperei cada queijinho com uns pozinhos de sal fino (não costumo misturar o sal no leite, mas há quem o faça)

Cobri as forminhas com película aderente, mas poderão utilizar um pano de cozinha.

Guardei no frigorífico.

No dia seguinte já tinha queijinhos para o pequeno-almoço.

Boa semana!

Patrícia

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

9 Replies to “Homemade”

  1. Tenho coleccionado receitas de queijo (fresco, mozzarela, ricotta, etc.) e ando super entusiasmada com a ideia de fazer queijo em casa. E com este post só vieste ajudar à missa. Pois bem, que saiam os queijos. E para além de padeira o Vel vai começar a chamar-me de queijeira 😀
    Ah,e não acho nada estranho teres herdado da tua avó uma forma de aluminio para fazer queijo. Eu herdei da minha a forma de buraco para fazer o bolo de frutas secas do natal e o fouet enorme com que se bate a sua massa! É o passar do testemunho, o que para mim é um orgulho imenso!!!

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  2. Uma maravilha. Eu também cresci com o queijo fresco caseiro. Fazia-o a minha mãe e o meu avô, que tinha uma cabra muito produtiva de leite, fazia-os, então, de cabra. Muitas vezes deixava-os curar…e eram uma verdadeira delícia. Também herdei uma forma do meu avô e algumas das tábuas em que ele colocava as formas para escorrer. Já há muito tempo que não faço, mas depois de ver estes aqui abriu-me o apetite para uns queijinhos.

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  3. Olá! Que rico queijinho! Gostava de ver a forma…Por aqui também o bichinho “homemade” anda à solta, tenho feito tofu caseiro que é uma maravilha!Vou publicar um dia destes.
    Beijinhos

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  4. Há uns tempos também fiz queijo fresco. Ficou muito bom. Mas não voltei a fazer, não sei porquê. Pode ser que este post me motive 🙂 Do que tenho muitas saudades é do queijo de cabra que a minha avó fazia. Era tão bom. Mas onde se arranja leite de cabra?
    Beijinhos

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  5. Voltei, Patricia…

    Para agradecer muito e muito a sua visita ao meu espaço (adorei “vê-la” por lá), os seus votos, as suas palavras tão carinhosas.

    Muito obrigada, voltarei sempre aqui.

    Beijnho

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  6. há seculos que não passo por aqui ,mas acontece que retirei da lateral do blog aplicação de blogs que sigo e os da wordpress não aparecem no painel do bloger logo perdi-te…
    Mas ao passar no meu facebok li o comentario e vim até aqui.
    Quando eu tinha ai uns 17 anos a minha mãe fazia queijos frescos para vender em restaurantes e eu ajudava , adorava fazer.
    Ela depois deixou mas ainda guarda as formas que são diferentes dessas.
    O teu queijo ficou mesmo uma tentação.
    bjs

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